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Roots. Um Movimento de Resgate Cultural

Entrevista com o professor de Roots Nando Gonçalves (Viajando Pelo Roots e Forró For All) abordando fenômeno Roots. Um movimento que ganhou força no Festival Rootstock e que vem conquistando adeptos mundo afora.

Por Deborah Goldemberg

Nando (Luis Fernando Amando Gonçalves), nasceu em São Paulo, no dia 24 de Fevereiro de 1975, formado em filosofia, forrozeiro desde sempre, já foi empreendedor da noite em Curitiba, mas abandonou tudo para viver em Itacaré/BA e hoje é professor de forró Roots com sua parceira Julie Médous em São Paulo. 

. O que é Roots?

Roots é um movimento de resgate cultural, que se inicia com o Festival Rootstock. Para os que não sabem, esse é o principal festival de forró do Brasil, que existe desde 2001, inspirado pelo festival hippie estadounidense Woodstock. Iniciado por Ivan Dias, do Forró do Vinil, que disponibiliza acervo de forró desde a Década de 40, a ideia do Rootstock é ouvir forró 24 horas no meio do mato! E não qualquer forró, pois há um esforço de arqueologia forrozeira, feita por diversos DJs. Vale dizer que antes do Rootstock já rolava uma cena “Pé de Serra”, surgida nos anos 90, que distinguia os que não se renderam à onda de forró eletrônico vinda do Ceará. De certa forma, o forró “Pé de Serra” é o “Roots”. Ou, o “Forró de Itaúnas”, como dizem alguns. Mas, esses nomes foram surgindo (e outros!) e sendo usados de diversas formas por diversos grupos sociais sem um consenso. Já a dança Roots é um fenômeno recente, que começa a ser identificado por este nome nos meados de 2015 e 2017. Daí é claro: quem dança “universitário” não dança Roots! E vice-versa. Há um “corpo Roots” muito específico na dança, ainda que seja possível fazer a transição, para quem queira. 

Porque uns dizem que o Roots é o Forró Originário de Itaúnas?

O Roots nasce como “estilo Itaúnas” que, por sua vez, segue para o resto do sudeste brasileiro (também alguns estados fora do sudeste, como o Paraná) e sofre influência de várias escolas de dança, não apenas de forró, mas de danças de salão, que remodelaram o estilo, dando origem ao que hoje identificamos por Estilo Roots.

Me conta um pouco mais dessa influência das danças de salão?

A dança de salão sempre foi uma dança dançada para o outro, isso é, para ser vista. O forró não tem isso na sua origem. O famoso professor de dança Jaime Arouxa tecnificou várias danças, mas como é nordestino optou por não tecnificar especificamente o forró, porque o forró sempre foi mais livre. É a sua simplicidade que o torna tão agregador. Mas, sob a influência da Dança dos Famosos, essa exigência técnica foi passando para o forró. Passaram a haver campeonatos de forró, por exemplo, o que é um contrasenso, ao meu ver. Mas, é isso. Essa exigência veio para o Roots. O “corporal” dele não permite qualquer coisa. 

Quais são as outras influências do Roots?

As principais influências são o “estilo Remelexo”, o samba de gafieira e o tango. O “estilo Remelexo” é o que foi criado por professores como Evandro Paz, China e Buiu na casa de forró Remelexo, localizada em Pinheiros, São Paulo. Foi algo que já era diferente do que estava rolando nos anos 90 com o “forró universitário” (com a influência das danças de salão), porque foi além dos giros e aberturas (influência também da lambada e capoeira). Ali, já se percebia o surgimento de caminhadas e chapéus, por exemplo, o que marca uma diferença.

Quando foi que o Roots se consolidou como um sub-gênero do Forró?

Se consolidou a partir de 2015, com diferenças de um Estado para o outro, principalmente Minas, Espírito Santo e Curitiba. Na verdade, o Roots vem se consolidando (no gerúndio). É curioso, porque em 2008 você já vê os professores China e o Pequeno (de BH) dançando Roots, mas ainda não se chamava Roots. De repente, surge a nomenclatura, assim como surgem as estrelas no céu! Ou, seria dizer, segue surgindo. Hoje, o Roots está na moda e ascendente. É a “ponta de lança” do forró.

A que você atribui o sucesso do Roots no Brasil?

Atribuo à questão técnica e estética do estilo, que chama muito a atenção das pessoas. Claro que gosto é relativo, mas para os aficionados por forró o Roots encanta. Quando vi as pessoas dançando Roots pela primeira vez, eu já era professor de “universitário”, mas tive a sensação de que eu não dançava forró. Me fez pensar que o que eu era um amador. Algo das caminhadas e bloqueios, de fazer menos giros e dançar mais junto – me arrebatou… Tudo demonstra mais rigor. É mais técnico. 

Então, o Roots é mais difícil?

Depende, ele é difícil quando não se estuda. Mas, sim, é bem mais exigente tecnicamente e corporalmente que os outros estilos de forró.

E o Roots faz sucesso no mundo?

Na Europa sim, em particular Portugal, França, Espanha, Suiça, Itália e Alemanha. Isso se deve à questão técnica e como o forró lá se desenvolveu através dos professores de forró e de dança. Tudo cresceu por meio da dança, logo a dança se tornou mais importante que a música e as bandas. 

Do Forró, todos se apropriam, mas ninguém é proprietário

Você diria que o Roots se apropriou do Forró Universitário?

O forró nasceu do Nordeste, mas Luiz Gonzaga estourou no Rio de Janeiro, tocando para universitários, na Década de 50. O próprio formato de baile “fechado”, em casas de forró, é algo muito do Sudeste. Daí, o que aconteceu na Década de 90 com o forró-dança sendo fortemente influenciado pelo samba rock paulistano (trazendo as movimentações de braços), também pelo “soltinho” (que trouxe as aberturas da capoeira para o forró) e a lambada (que trouxe mais giros). Foi algo inevitável haver uma explosão forrozeira. Ninguém segura movimentos culturais, que vão ressignificando e reforçando outros que vinham de antes. O forró é de quem, se ele é de todos? O que vejo é que todos se apropriam do forró, mas ninguém é proprietário. 

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