O maestro e compositor erudito apaixonado pelo Forró

Rafael Piccolotto de Lima conheceu o Forró ainda na faculdade e hoje além de produtor cultural é também professor de Forró em Nova Iorque

Foi na faculdade, aos 20 anos, quando o maestro, compositor, arranjador, youtuber Rafael Piccolotto de Lima teve o seu primeiro contato com o Forró. Através de uma amiga, acabou entrando nas aulas de Forró de uma antiga casa de shows na cidade de Campinas que se chamava Cooperativa Brasil. Ele tinha um conhecimento básico de dança de salão, mas se encantou com o Forró: “Eu falei, nossa isso daqui é muito mais legal do que dança de salão, porque tem essa coisa de dançar juntos, mas é uma dança mais descontraída, mais solta, mais brincadeira”.

Naquele época, o Forró Universitário corria solto entre os jovens e a ideia era aprender o básico, mas depois foi se desafiando a aprender novos passos e não parou mais. Piccolotto lembra que ia todos os dias às aulas, praticamente respirava Forró de segunda a segunda, já que sexta e domingo ia aos bailes.

“O Forró entrou de uma maneira fulminante na minha vida, preenchendo um espaço que, as vezes, eu não achava em outros lugares, nesse momento de faculdade, quando o jovem está buscando a sua identidade, círculos sociais, lugares e pessoas que você se identifica e o Forró foi onde eu encontrei pessoas das mais variadas profissões e classes sociais. Desde doutores até pessoas que mal têm ensino médio.  E para mim foi uma maneira de aliviar a pressão, eu estava fazendo Unicamp na época e dançar me fazia esquecer um pouco dos estudos e dançar é bom demais”.

Danças medievais

Piccolotto lembra que historicamente, levou tempo para as pessoas dançarem juntas. Era um tabu, a gente via aquelas danças medievais, mas as pessoas à distância, fazendo as cortesias, mas não tinha esse tipo de interação na dança como temos hoje. E foi no século passado que a dança de casal como a gente conhece hoje, principalmente o Forró que a gente dança super próximo, passou a ser frequente.

Curso de Forró e os mestres do jazz

A paixão de Piccolotto pelo Forró foi tão grande que o levou a organizar eventos e até a abrir um curso de dança de Forró em Nova Iorque. Depois de formado em música, a carreira do artista avançou a passos largos. Ganhou vários prêmios e uma bolsa de estudos nos EUA o levou a tocar com grandes músicos de jazz como Chick Corea, Brad Mehldau, Terence Blanchard, Blad Mehldau, Romero Lubambo e até o brasileiro Ivan Lins. Foi indicado ao prêmio Grammy como compositor erudito e a paixão pelo Forró também o levou a criar o Projeto Forró Sem Palavras. Esse projeto foi estreado em Nova Iorque em 2018, baseado no vocabulário musical e ritmos tradicionais do nordeste brasileiro. Releituras de clássicos do estilo e composições originais são apresentadas por grandes grupos instrumentais trazendo o gênero popular brasileiro para um contexto orquestral, influenciado pela música erudita de concerto e pelo jazz. Desde então, “Forró sem palavras” foi apresentado por várias orquestras em diferentes cidades dos Estados Unidos, Brasil e Canadá.

Jovens ainda não descobriram o potencial do Forró

Piccolotto acha que os jovens ainda não descobriram o verdadeiro potencial dessas danças a dois, preferindo dançar “meio sozinho”, que não é muito interativo como na dança a dois. “Para mim, quando eu comecei a dançar foi fantástico, poder interagir de uma maneira mais próxima com as pessoas” num ambiente que é super seguro. Existe uma cultura no Forró das pessoas quererem dançar uma com outras pessoas. E uma das razões para os jovens não frequentarem tanto o Forró, talvez o modismo que às vezes coloca um ritmo sobressaindo sobre os outros, condições socioeconômicas ou outros fatores, mas que todo mundo deveria experimentar dançar à dois em algum momento da vida. Quem experimenta o Forró corre o risco de se apaixonar e não largar mais.