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O carismático Castanheiro do Forró. Lenda viva de uma época de ouro do Forró paulistano

Documentário de Alfredo Bello resgata o legado de Castanheiro do Forró, braço direito de Pedro Sertanejo da icônica gravadora Cantagalo e do Forró do Pedro.

Nivaldo Gomes da Cunha, conhecido como Castanheiro do Forró, nasceu no Recife. Quando criança, escutava muito os programas de rádio que tocavam música nordestina de Luiz Gonzaga e Severino Januário. Seu pai mudou-se para São Paulo e estabeleceu-se na Vila Alpina, mandando buscar, em seguida, a família. Seu tio, que era caminhoneiro, ajudava o irmão trazendo castanhas para que ele vendesse na rua. Castanheiro, então, ia às feiras do bairro e conseguia um espaço nas barracas para vender suas castanhas. Daí a origem do apelido.

Cantando, foi cativando as pessoas e ajudando na venda dos produtos do pai. Foi numa rua próxima à estação que chamou a atenção do radialista Fabio Ventura, da rádio Cacique, de São Caetano. Em seguida, Castanheiro procurou um trio que sempre se apresentava à noite nas ruas, o Trio do Nordeste (de Pernambuco). Já com a apresentação na rádio Cacique, Castanheiro, ainda um garoto, se ofereceu para fazer alguns ensaios com eles.

A parceria com Pedro Sertanejo

Naquele tempo, Pedro Sertanejo já tinha um programa na rádio ABC de Santo André, e eles passaram a se apresentar como Trio Nordestino e depois, como Castanheiro do Norte no programa nas tardes de domingo. Foi então que ele gravou seu primeiro disco em 78 rotações. “Foi material pago, o disco em que a banda pagava as despesas do estúdio de gravação e saía com 1000 discos que eram vendidos nos shows”.

Foi nessa época que ele se interessou por tocar zabumba e outros instrumentos de percussão. Castanheiro lembra da época em que havia muitos circos na cidade de São Paulo e que, após as apresentações, havia shows de músicos como Luiz Gonzaga, Paulo Sérgio, Reginaldo Rossi, entre outros. Castanheiro continuou a se apresentar nos programas de domingo de Pedro Sertanejo e então, surgiu o convite de Pedro Sertanejo para tocar com ele num circo. Na manhã seguinte, eles tocaram juntos num programa da Record.

Nessa época, Sertanejo estava começando a gravadora Cantagalo e convidou Castanheiro para trabalhar com ele. A gravadora se estabeleceu na Rua Catumbi. Em 1965, Castanheiro começa uma parceria musical de mais de duas décadas com Pedro Sertanejo e seus filhos Aricessone e Oswaldinho. Em 1966, depois de organizar bailes de forró em clubes, Pedro Sertanejo inaugurou o “Forró do Pedro“, primeiro salão de forró de São Paulo. Castanheiro foi gestor por 21 anos.

Forró do Pedro, o primeiro salão de Forró de São Paulo

“Quando alugamos o salão, ele estava muito detonado, reformamos, pintamos e deixamos tudo bonito. A inauguração foi com Luiz Gonzaga“. Ali, Castanheiro fazia de tudo, até trabalhava na bilheteria. Muitos músicos queriam tocar no Forró do Pedro, porque assim, eles também gravavam os discos na Cantagalo, e Pedro Sertanejo também transitava bem nas outras gravadoras, então para os músicos era um importante meio para fazer sucesso.

Um pai para os músicos de Forró da época

Nessa época, Castanheiro era muito querido pelos músicos, que o consideravam um pai e ele era também o responsável por escalar os músicos para tocar e pagá-los, lembra Tziu do Araripe, outra grande lenda do Forró. Com o sucesso do Forró do Pedro, outras casas abriram e nessa época, São Paulo chegou a contar mais de 200 Forrós espalhados pela cidade.

Entre 1965 e 1990, Castanheiro foi um dos músicos mais requisitados em gravações de forró em São Paulo. “Os grandes nomes da música como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Cremilda, Castanheiro gravou com quase todos eles e não importava se a pessoa tinha dinheiro ou não. Castanheiro estava ali para contribuir com a cultura, com a nossa música”, relata o músico Zé Duarte.

A música era feita mais por amor

“Tudo o que se faz hoje é baseado naquilo que foi feito nos anos 70. Tudo começou com Castanheiro e Pedro Sertanejo“, diz o acordeonista Tio Joca, do Trio Sabiá. “O que mudou do que era feito hoje para a época deles, é que naquela época a música era feita mais por amor”, diz Tatu Batera.

Hoje, Castanheiro está afastado do palco, mas ainda mantém contato com alguns músicos da época. “A gente sempre se reúne para fazer uns shows”. Um deles acontecerá em julho no Sesc Paulista, organizado por Alfredo Bello que também é o autor do documentário Castanheiro do Forró. Quando perguntado sobre seus discos gravados, ele lembra que não muitos álbuns lançados, mas participou de vários. E diz ter muitas saudades do palco.

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