Forró For All. O musical
Forró, Fonte de Felicidade entrevistou Deborah Goldemberg, dramaturga e diretora do musical Forró For All, que terá apresentação única em São Paulo no dia 06 de maio, no Teatro B32. O musical conta a história de duas famílias no meio da especulação imobiliária na região do Largo da Batata devido à construção do metrô Faria Lima. A região, um reduto nordestino, foi palco de importantes casas de Forró, como o Projeto Equilíbrio e KVA, que naquela época reuniam milhares de pessoas.

FFF – Como surgiu a ideia do musical?
Deborah Goldemberg – Eu observei o surgimento do Forró universitário/sudestino desde os anos 2000 e achei que esse movimento cultural merecia um musical dedicado a ele, além de ter todos os elementos que o gênero demanda – boas histórias, música e dança. A cena teatral paulistana oferece muitos musicais, mas a maioria é importada (sucessos da Broadway) e isso me instigou ainda mais. Somos um país musical e dançante e temos tudo para produzir ótimos musicais.
FFF – Por que o Forró?
Deborah Goldemberg – Primeiramente, porque é uma paixão pessoal. Eu fui parar em Itaúnas com 23 anos ao acaso e peguei o início desse movimento. Vi quando o Forró estourou aqui em São Paulo alguns anos depois. Sempre amei dançar e achei o ambiente democrático, divertido e único. No Forró, já me diverti muito, me apaixonei e já me curei de muitas dores. Quer coisa melhor?
FFF – O que a peça irá retratar?
Deborah Goldemberg – A peça cobre o período de 1989 até os tempos atuais. Começa com a morte do rei Luiz Gonzaga e passa pelo momento em que a lambada e os teclados pareciam apagar o Forró. Como diz a canção, “Eu pensei que o forró ia cair, mas o forró não caiu não.” Na virada do Século, veio a renovação do Forró universitário, puxado pela banda Falamansa, dialogando com o pop. Essa é a apoteose do Forró sudestino. O foco da peça é esse movimento e como ele transformou as relações sociais, a forma de dançar, as letras e até a música.
FFF – Vocês estão retratando a onda do Forró universitário/Forró Sudestino e o Forró Raiz, como entra em cena?
Deborah Goldemberg – Nós temos um profundo respeito e amor pelo forró nordestino. Não conheço um forrozeiro paulistano que não seja apaixonado por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Elba Ramalho, até outros menos conhecidos na cena nacional, como Santana e Marinês. Há várias músicas de Gonzaga na peça, porque elas tocam até hoje em qualquer Forró, mas nosso foco é retratar o que aconteceu ali na virada do século (anos 2000), quando as universidades paulistanas começaram alguns bailes de Forró e o Forró – gênero antes mal visto pela classe média paulistana – foi abraçado por essa juventude. Virou uma grande febre e logo pipocaram as casas de Forró no bairro de Pinheiros: Projeto Equilíbrio, KVA, Remelexo e Canto da Ema, onde esse movimento se consolidou, atraindo milhares de jovens para dançar Forró.
FFF – Como foi esse movimento e como ele é abordado no musical?
Deborah Goldemberg – Sabe-se que o movimento surgiu em Itaúnas (Município ao Norte do Espírito Santo, fronteira com a Bahia), onde o modo de dançar Forró encantou a todos (provavelmente por influência da lambada). Sabe-se que ele chegou em São Paulo e, de alguma forma, incorporou passos do Samba Rock. Depois, sabe-se que o Falamansa se inscreveu num festival de música universitária, não ganhou, mas conquistou o público. Depois, sabe-se que surgiu um baile de Forró da Veterinária da USP no Anhangabaú e produtores históricos que começaram a agitar as casas de Forró de Pinheiros. Há um pouco de lenda e um pouco de história em tudo isso, e a peça narra todas essas referências.
FFF – Quais são os atores desse musical e como vocês chegaram a eles?
Deborah Goldemberg – Apostamos num elenco de atores jovens e uma base forrozeira orgânica (alguns dos quais escolhidos a dedo pela diretora nos bailes de Forró!). Encabeçando o elenco, temos Aury Porto, um grande ator que empresta seu talento para o núcleo mais político da peça (que aborda o tema da gentrificação do Largo da Batata). Ao seu lado, talentos jovens como Diego Lima, Camila Castro, Lucas Araujo e Maria Eduarda Pecego. E, claro, nosso personagem mítico – o sanfoneiro Almindo – na pele de Flávio Pacato e o professor de dança Evandro Paz, história viva do movimento do Forró sudestino, que ele gosta de chamar de Forró urbano. Quando o conheci, fiquei encantada com sua vivência e as aulas que ele chegou a dar para trezentos alunos de uma vez no Remelexo, no auge do movimento nos anos 2000. São trinta anos de Forró nessa figura alegre e descontraída, corpo de mamulengo e muita história para contar. Aprendemos muito com ele, que, junto com sua parceira Íris De Franco, coreografou algumas cenas da peça.
FFF – O musical terá apresentação única em São Paulo? Vão sair em turnê para outros lugares?
Deborah Goldemberg – Temos a nossa pré-estreia marcada para o dia 6 de Maio, no maravilhoso Teatro B32, mas nosso sonho é levar a peça para toda a cidade de São Paulo e quem sabe para o resto do Brasil e outros países que hoje curtem o Forró sudestino, como é o caso dos Estados Unidos, Rússia e Alemanha. Estamos em diálogo com teatros públicos, escolas e espaços culturais e também gostaríamos de levar a peça para festivais de Forró e fazer apresentações de rua.
O público pode esperar uma experiência divertida e ao mesmo tempo questionadora, porque o enredo traz o drama humano e os desafios dos personagens para resguardarem o espaço do Forró na cidade que só cresce para cima e, ora, periga esquecer sua história.
Produção Independente. Apoio: Casa Locomotiva, Canto da Ema e Teatro B32



Serviço.
Forró For All
Dia 06 de maio, às 20h.
Local: Teatro B32. Av. Brigadeiro Faria Lima, 3732, Itaim Bibi, São Paulo – SP