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Entrevista: Janayna Pereira, ex-Bicho de Pé

Janayna Pereira, ex- Bicho de Pé, é autora de algumas pérolas como “Nosso Xote” e “Que Seja”. Com o sucesso das suas músicas ela já esteve cantando em mais de 30 casamentos de casais que tinham ligação emocional com suas músicas

Com o estouro do chamado “Forró Universitário”, a Banda Bicho de Pé, da qual fez parte até 2017, levou o melhor da nossa música para a França, EUA, Inglaterra, etc, retratando de forma clara a alegria e espontaneidade do Forró que conquistou o Brasil e continua conquistando o mundo. Veja aqui a trajetória dessa fantástica artista

Ser cantora não passava pela cabeça de Janayna Pereira quando ela começou a fazer curso de teatro aos 16 anos. Seu sonho era ser atriz e atuar em peças como Hair, musical da Broadway, inspirado no filme que confrontava o movimento hippie e a guerra do Vietnã. Hoje, Janayna ainda sonha em atuar, mas atrás das câmeras, dirigindo uma peça de teatro, um filme ou programa de TV. No entanto, sua carreira se projetou quando formou a banda Bicho de Pé com outros integrantes.

A canja no show do Trio Virgulino

Foi em um show do Trio Virgulino que Janayna pisou no palco pela primeira vez, incentivada pelas amigas a soltar a voz. Enok Virgulino, então sanfoneiro e vocalista do trio, perguntou qual música ela iria cantar e qual era o tom. “Cantar? Falei Estrada do Canindé, de Luiz Gonzaga, porque era a música que meu pai gostava e ouvia muito. Agora, tom?”. Na época, ela ainda não sabia o que era tonalidade musical, então Enok a ouviu e falou: si bemol. Foi assim que começou a carreira de Janayna como uma das melhores cantoras e compositoras da cena do Forró. Quem também estava atento era Miltinho Edilberto, que a convidou para ser backing vocal da sua banda.

Apesar de não querer aceitar o convite a princípio, Janayna lembra que na época ganhava bem mais em uma noite sendo backing vocal do que como estagiária numa produtora de áudio. Além disso, os shows de Miltinho eram fluidos e naturais, sem ensaios prévios, mas contavam com a participação de músicos de jazz que Janayna costumava assistir. Depois de fazer uma participação cantando uma música na banda de Miltinho, Janayna começou a cantar mais de uma música, até que o próprio Miltinho disse que era hora de levantar voo e ter a sua própria banda. Foi assim que, junto com outros músicos como Potiguara e Daniel Teixeira, surgiu a banda Bicho de Pé.

Canções autorais para se destacar

Janayna tinha um desafio pela frente. “Todas as músicas de Forró que eu queria gravar, Elba Ramalho já tinha gravado então, se eu quisesse algo diferente eu tinha que escrever”. E fazer música autoral era a forma da banda se destacar, afinal ninguém fica famoso só interpretando música dos outros. Janayna foi muito humilde dizendo para a banda que tinha umas músicas, entre elas Nosso Xote.

“No início nossa proposta era fazer MPB, mas quando estourou Nosso Xote tudo mudou. E ninguém, nenhum de nós, esperava que iria fazer tanto sucesso. De repente todo mundo estava me ligando. Me senti como naquele filme Dois Filhos de Francisco, minhas amigas ligando para as rádios pedindo a música, minha mãe chorando de emoção. Lembro de também chorar ao ouvir a música na Rádio Bandeirantes”. E o sucesso foi ainda maior depois que a banda participou do programa Superstar em 2014. A música Nosso Xote surgiu de algo real que aconteceu comigo. Naquela época eu me descobri uma pessoa muito romântica e eu realmente conheci uma pessoa maravilhosa e nos apaixonamos. Já a música Que Seja é uma continuação daquele amor. Para onde foi aquela paixão.

Influência ecléticas do pai

A carreira musical como cantora e compositora ela atribui as influências que recebeu do pai, publicitário, que tinha uma coleção de discos enorme. Ainda bebê, no berço só se acalmava ouvindo Billie Holiday, Ella Fitzgerald ou Luiz Gonzaga, afinal o pai era nordestino, então aqueles discos de Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Luiz Gonzaga sempre estavam presente quando ele me colocava para dormir. A minha mãe na época trabalhava à noite. “Foi assim que eu me descobri cantora. Quando eu comecei a cantar no palco com o Trio Virgulino eu não sabia que tinha um repertório tão grande, nem sabia que tinha uma voz tão afinada, mas ressalta que o pai a obrigava a decorar as letras de algumas músicas”.

Janayna lembra de um episódio quando tinha 12 anos onde seu pai lhe apresentou um disco que mudou a sua vida. “Era uma época em que eu estava muito ligada ao rock, era apaixonada por Frank Zappa, um roqueiro que não usava drogas, mas era muito politizado e falava de tudo e meu pai que tinha o costume de ouvir muito forró, então um dia ele disse: ”minha filha, nem para mim, nem para você. Olha aqui algo que vai agradar a todos”. Então ele colocou um disco de Hermeto Pascoal. Aquilo foi um baque para mim. Falei: nossa, nós temos um Zappa aqui no Brasil”. Foi assim que Janayna começou a gostar da música instrumental brasileira e passou a entender melhor a MPB e até Luiz Gonzaga que até então ela o classificava como “música de velho”, mas foi na faculdade que os laços com o Forró se estreitaram quando, junto com as amigas, começaram a frequentar os forrós. “Entrei naquele ambiente, vi um monte de gente legal, um monte de gente interessante, pessoas de todas as áreas, principalmente da parte dos alunos de humanas da PUC, da USP pela proximidade do local. Eu falei: Meu Deus! Essa é minha turma!”.

Sou feliz porque minha música traz felicidade!

Para quem acha que Janayna é uma cantora que só gosta de Forró está muito enganado. Ela é muito eclética, assim como o pai que ouvia de tudo. De Jimi Hendrix a Louis Armstrong, de Rolling Stones a Caetano. Mas a cantora lembra sua predileção principalmente por cantoras com personalidades fortes como Etta James, Rita Lee e Janis Joplin, as duas últimas começou a ouvir com 8 anos quando ganhou de presente os 2 discos. “Na verdade, minha influência musical se deve muitos aos meus pais, mas acho que eu parei nos anos 70, 80, lógico que Elba, Dominguinhos, Anastácia sempre estiveram no meu coração, mas gosto dessa linguagem mais rebuscada das músicas daquela época. Depois disso acho que se perdeu muito, principalmente a língua portuguesa com a introdução de muitas gírias que me incomodam um pouco. Para mim, que leio muito Machado de Assis e Eça de Queiroz, acho que ficou muito difícil a vida de compositora, depois do Chico, Caetano, Gil e Milton Nascimento, não vi grandes coisas depois”.  Como compositora, já compôs mais de 400 músicas, mas diz que é muito perfeccionista, principalmente quando compõe para si. Hoje, Janayna Pereira segue a carreira solo, deixou a banda Bicho de Pé em 2017 e se diz uma pessoa muito feliz. “Eu me sinto feliz porque minha música faz muita gente feliz. Eu já casei pessoalmente mais de 30 casais com as músicas Nosso Xote e Que Seja. Muita gente me fala: Ah, eu conheci minha esposa através dessa música, essa foi a música do nosso casamento. Isso para mim é a verdadeira felicidade.”

Janayna Pereira no Vira e Mexe

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