Música

As bandas que surgiram no Forró Universitário

Em uma recente entrevista, a compositora e interprete Janayna Pereira, ex Bicho de Pé, uma das principais bandas do movimento Forró Universitário que surgiu no final dos anos 90 no sudeste, fala como surgiu o movimento e as principais bandas que despontaram na época.

O início começou quando a Banda Falamansa estourou – até onde eu sei, foi o último grande fenômeno de vendas de discos físicos dentro de gravadoras. Foram quase 2 milhões de cópias e isso abriu o leque para todo mundo. Eles fizeram muito sucesso porque eram meninos bonitos, jovenzinhos que tocavam aquela música que todo mundo conseguia tocar no violão, todas as rodinhas de violão na praia com uma fogueirinha ali, sempre alguém tocava Falamansa. Era Raul Seixas e Falamansa. De repente a gente estava neste mesmo barco, tocavam também as nossas músicas. E por eles terem feito bastante sucesso abriu espaço para bandas como Rastapé, que era a banda mais rastapé; o Bicho de Pé que era mais MPB; Peixe Elétrico que tinha uma pegada mais reggae; Circulador tinha uma pegada mais pop; Caiana tinha uma pegada mais praieira. No Rio de Janeiro, ao mesmo tempo, tinha Raiz do Sana que era a banda mais paz e amor, mais da natureza, e evocação da natureza, dos Ovnis e dos extraterrestres, a banda mais freak. Tinha o Forroçacana que tinha essa picardia da malandragem carioca junto com uma linguagem de rabeca, de guitarrinha baiana que eles trouxeram.  Sem falar nos trios como Dona Zefa, Ó do Forró, Trio Virgulino que eram aquela linguagem tradicional. Em Belo Horizonte tinha duas bandas que faziam bastante sucesso: Menina do Céu que tinha outra cantora que era a Bela, que já veio da música erudita, então já tinha um jeito de cantar diferente. Alcalino, do Paulinho, cujas músicas já traziam aquela melancolia do violão mineiro, aquela coisa do Clube da Esquinas, uma temática mais metafórica, uma forma diferente de escrever.

E todos nós inspirados pela linguagem das músicas do Forró Pé de Serra criamos nossos estilos próprios, com a nossa própria linguagem dentro do universo da música contemporânea. Nenhum de nós falava da seca porque nenhum de nós vivíamos aquilo. Não era do nosso cotidiano. Cada um de nós falava do nosso cotidiano de diferentes formas, com diferentes abordagens, porém se valendo da inspiração da música nordestina e cada um criou seu estilo próprio e isso foi muito legal. E junto conosco reacenderam as chamas dos nossos mestres que estavam aí ofuscados por outros movimentos musicais. A gente sabe que dentro do mercado fonográfico cada hora vem um sucesso, vem outro sucesso em seguida e os artistas vão sendo esquecidos ali. A Elba, Dominguinhos, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, esses nossos grandes ícones que estavam ali nos seus nichos de repente reacenderam as suas chamas. E aí músicos como Caetano, Gil gravaram músicas só de Forró. O próprio Alceu que tinha o seu estilo próprio de gravar, gravou um disco só de Forró. De repente o Forró virou wow! De repente todo mundo resolveu homenagear o Gonzaga. De repente o Dominguinhos era de novo o superstar, a Elba. Que bom! A Marines ainda pode colher um pouquinho desses louros antes de vir a falecer. Genival Lacerda também. Tivemos uns nomes que ainda conseguiram usufruir dessa chama acesa que o movimento do Forró Universitário trouxe.

Esse nome foi um grande golpe de marketing porque o baile onde a gente tocava, onde a gente frequentava era feito por universitários. Então quando a Banda Falamansa estourou, a gravadora Paradoxx viu que tinha um monte de outras bandas que faziam um som parecido, cada um do seu jeitinho, chamou todo esse povo ali e fez uma coletânea chamada O Melhor do Forró Universitário. Foi assim que eles nicharam a gente. Porque o Forró era visto como música de nordestino, de uma certa idade e de uma certa classe social, das pessoas que vieram construir o sudeste. Era nichado nesse segmento e o que eles quiseram com essa jogada de marketing, foi trazer para a classe A e B e para o público jovem esse estilo musical que eram feitos por jovens bonitos e jovens paulistas, cariocas e mineiros. Ninguém era nordestino ali, ou éramos filhos, no meu  caso, o caso dos meninos do Rastapé que são nordestinos mesmos, nascidos na Paraíba e que vieram todos morar aqui. Todos nós tivemos essa influência dentro de casa, seja por ser filho de nordestinos ou simplesmente admirar o ritmo. E a gente se apropriou dessa linguagem e cada um fez do seu jeito a sua música autoral e acho que foi por isso que o movimento estourou, ascendeu. Porque era o Novo Forró. Eu preferiria que eles chamassem de o Novo Forró do que de Forró Universitário porque esse rótulo elitiza de uma forma muito restrita. E para nós que éramos, a maioria de esquerda, talvez aquilo soasse um pouco arrogante, mas deu certo e todo mundo fez sucesso e cada um teve seu e

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