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Amor-amor, forró à parte!

Mas… e quando o seu amor não dança forró?

Deborah Goldemberg

Ah, o amor… Todos querem. Poucos tem. Quando encontramos o amor verdadeiro é uma maravilha. Mas… e quando o seu amor não dança forró? Ai, ai. É difícil, vamos dizer a verdade. O cupido nos flecha a revelia das nossas preferências. Você pode estar em vários aplicativos e ter uma casamenteira indiana trabalhando por você que, de repente, a flecha atravessa o seu coração e você se apaixona aleatoriamente pela sua – vizinha! Ou pelo cara que quase te atropelou no trânsito. Pela advogada do seu primo. Só depois descobrimos que a pessoa não dança forró… O que fazer?

Os forrozeiros e forrozeiras que se apaixonam por não-praticantes deixam o forró, mas o forró nunca sai deles. Eles podem até passar anos distraídos, mas vai chegar o dia em que a saudade vai se rastejar igual a uma aranha caranguejeira. Saiba o que acontece. Vou contar o que já vi acontecer com esses olhos que a terra há de comer (essa crônica é 100% confidencial e verídica). É assim: os forrozeiros voltam ao forró. Seja com o consentimento dos seus amados que não dançam, seja escondido ou, ainda, pode ser na categoria “mais ou menos”. Explico melhor:

Estamos na era mais liberal dos tempos, certo? Então, queremos crer que há muitos casamentos e uniões estáveis em que é possível dizer, “Meu amor. Eu te amo, você é o amor da minha vida, mas eu sinto MUITA saudade de dançar forró. Tudo bem se eu der um pulinho no Canto da Ema nesse Sábado? Duas horinhas?” Os seres iluminados, os não ciumentos, os que confiam nos seus parceiros, os evoluídos ou os verdadeiros praticantes do amor-livre irão concordar prontamente, “Claro, meu amor. Curte o seu forró. Vou ficar em casa assistindo o último filme do Lars Von Tiers”. Melhor cenário possível.

A categoria “vai escondido” é o seguinte: o forrozeiro sabe que nem adianta trazer a pauta para a mesa. Se os pratos não voarem pelos ares, é certo que o parceiro não vai entender, vai dar briga, vai ser entendido como uma declaração de guerra, vai gerar retaliação, no mínimo muito mal-humor. É difícil um não-forrozeiro entender que não há maldade em passar duas horinhas na pista. O jeito, nesses casos, é fazer escondido. Sabemos de pessoas que bailam madrugada adentro enquanto o companheiro dorme tranquilo no seu lar (não vale para os que moram juntos) ou em algum hotel em viagem de trabalho. É indolor. Não implica traição. Essas pessoas vieram prestar tributo ao Deus Forró. Respeitemos a sua religião.

A categoria “mais ou menos” (escondido!) é o seguinte: o forrozeiro consegue um “vale-night” junto ao companheiro. Isso é, o direto de sair de noite sozinho, afinal, cuidou das crianças a semana inteira, não aguenta mais assistir Bob Sponj e os amigos sentem falta deles na noite. Ou seja, a saída noturna é consensual, mas… não é dito que o “vale-night” será usado para ir ao forró. Pelos mesmos motivos do cenário 2 (vai dar briga, retaliação, etc.) Outro dia encontrei um rapaz gracinha no Remelexo, com dois filhos recém-nascidos, numa alegria contagiante. Ele não ia ao forró há 3 anos, coitado. Assumi a missão de cuidar bem dele. Dancei, apresentei para as amigas e, zelando pela mana esposa dele, duas da manhã encaminhamos ele para casa porque já era tarde.

Assim é: amor-amor, forró à parte. Amor que é amor volta para casa feliz, descansa a cabeça no travesseiro mais leve e a vida segue melhor do que antes. Forró não é ameaça ao amor verdadeiro, ao contrário, pode ser um grande aliado. Agora, esteja atento, porque para amor de mentirinha ninguém garante. 😉

Crônicas Forrozeiras

Descrição da Coluna:
Forrozeiro que é forrozeiro vai ao forró toda semana, às vezes até todos os dias! Uma vez na vida, ao menos, precisa conhecer Itaúnas, a “Meca” do forró pé de serra, mas os fiéis mesmo vão todo ano dançar forró nas dunas! Sendo assim, o universo forrozeiro é repleto de rituais sobre o estilo da dança, as bandas favoritas, os modos de vestir e calçar – de regatas e “chinesinhas”, as preferências e desagrados no dancing, as bebidas mais amadas como a catuaba (e aquelas que nenhum forrozeiro bebe – como o uísque!), o cigarrinho na pausa, enfim. Pode-se dizer que o forró sudestino é uma sub-cultura ou uma “tribo” urbana. É sobre esse universo que se debruçam as crônicas forrozeiras, revelando seu charme e alguns de seus segredos. Esse gênero literário despretensioso que passeia pelos detalhes do cotidiano e sempre toca a alma dos que ali vivem. Venha nos descobrir! 
Por quem:
Deborah Goldemberg é antropóloga e escritora, além de forrozeira, é claro! Autora de romances como Valentia (Ed. Grua, 2012) e A Brecha, Uma Reviravolta Quilombola (Ed. Estrela, 2020), finalistas do Prêmio Jabuti e Machado de Assis, a autora é fã de crônicas, que publica no seu site deborahgoldemberg.com com direito a podcast para quem prefere ouvi-las. Em 2022, escreveu a peça Forró for All – forró sudestino no coração do Largo da Batata, que conta a história do surgimento do forró universitário na cidade de São Paulo. A peça estreou em Março de 2023 no Teatro B32 e, atualmente, uma versão “Pocket” segue marcando presença em festas forrozeiras por toda a cidade, com a banda Forró for All e corpo de baile.

One thought on “Amor-amor, forró à parte!

  • Vinicius Henrique

    Al melhor escritora da atualidade
    Ela é F…….

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