A paixão pela vida me levou ao Forró
Pílulas de Forró curam doenças inimagináveis e indetectáveis. A ciência deveria investir nisso. Por Luana Margiha.
Eu sempre acreditei que existem dois tipos de paixões: uma delas é a paixão pela vida, pelo que se tem, pelo que dá prazer e a outra que está ligada sempre a alguém, que depende de um outro ser, de algo com conexão. E eu posso dizer com toda certeza da minha alma, que nos meus 37 anos de vida, eu consegui sentir as duas paixões em um único lugar. E quando digo as duas, estou verdadeiramente englobando todo o fazer, ser, sentir e sorrir. Aquele sentir que vem da alma.
Meu primeiro contato com o Forró foi aos 16 anos. Acredito que sou parte de uma geração que acabou contagiada pelo ritmo da sanfona, pelo cruzar dos pés e pelos ambientes leves. Por praticamente cinco anos da minha vida, eu esperei ansiosamente a sexta-feira para ir ao Forró e não existia nada, mas nada mesmo, que me desse uma sensação tão boa quanto “xotear” ou dançar um baião madrugada afora. Criei uma regra de vida e não existia pessoa capaz de mudar esse desejo. Era trabalhar, estudar e esperar a sexta feira. Aos 16 anos, eu não tinha maturidade para entender que aquilo tudo não seria de forma alguma diferenciado de ser feliz. Se sentir Feliz.
Em 2001, esperando por mais uma sexta, encontrei no Forró alguém que mudou a minha rota, meus planos e toda a minha vida. A forrozeira se apaixonou. Eu sempre disse que eu encontraria o meu príncipe forrozeiro, casaria, teria filhos e seria feliz para sempre dançando nos salões por aí. Meu “Conto de fadas forrozeiras” estava pronto. Era uma vez…
Acontece que não saiu tanto quanto o planejado, mas a vida está sempre mudando os nossos planos. O meu príncipe ia ao Forró mas não dançava de jeito algum. Não tinha som de triângulo, sanfona ou zabumba que balançasse aquele corpo, nem um passo para lá e um para cá. E foi esperando um conto de fadas redigido e assinado com o meu nome, que a vida aconteceu. Me casei com o Príncipe não forrozeiro e tive um filho. Quase um “Conto de fadas forrozeiras” perfeito, só não teve a parte do “foram felizes para sempre”. Mas a gente foi feliz enquanto durou e até hoje toda vez que eu olho para o meu filho, eu sei e sinto que ele é parte de uma paixão do forró. Depois disso, os anos foram passando e precisei trocar a minha paixão por fraldas, mamadeiras, faculdade, casa, marido e trabalho.
Foi quando, em 2022, período da pandemia em que todos ficaram reclusos, indo encontrar um amigo para um simples jantar, passei em frente ao Canto da Ema. Eu olhei e quase nem pude acreditar que aquilo ainda existia, que aquele mundo ainda tinha um portal aberto e que eu agora poderia acessar novamente. Confesso que estava vindo de uma reestruturação gigante. Sabe aquela fase da vida em que você acha que perdeu tudo? Estava recomeçando uma vida nova, aprendendo a cada dia quem eu era, ou o que eu era, e até mesmo do que gostava de verdade. Ah! Algumas pessoas chamam isso de divórcio também. Foi nessa época que eu descobri que eu sou muito mais forte do que eu podia imaginar, e é aí que entra o Forró na minha vida novamente. Desmarquei o jantar com o meu amigo já sentado no restaurante, estacionei o carro e disse em voz alta (sim eu falo comigo mesma). Hoje, vamos dançar Luana!
Eu seria capaz de passar horas descrevendo a sensação que eu tive quando entrei de novo no Canto da Ema. Aquela sensação de volta no tempo, de alegria, como se o corpo explodisse e gritasse a sensação de estar em casa, de estar de volta.
Dalai Lama diz: A felicidade é um estado de espírito. Se a sua mente ainda estiver num estado de confusão e agitação, os bens materiais não vão lhe proporcionar felicidade. Felicidade significa paz de espírito.
Forró é paz. É paz de espírito; é a maior e melhor definição que posso usar. Pílulas de Forró curariam doenças inimagináveis e indetectáveis; a ciência deveria investir nisso. Hoje eu me sinto como quando eu tinha 16 anos, mas com a maturidade e os benefícios da experiência dos 37.
Sigo esperando ansiosamente a sexta para pegar o meu carro e ir para o Forró. Pisar no salão, ouvir a música, fechar os olhos e flutuar. E de novo, ninguém muda os meus planos e a minha rota. Todos do meu círculo já estão avisados: sexta é dia de forrozear. Toda sexta recebo a mesma mensagem da minha melhor amiga me perguntando se eu vou para o Forró. Não que ela entenda o que é Forró ou que ela frequente, mas ela sabe que não tem outra coisa que me faça tão bem, tão completa e tão feliz. Eu sigo forrozeando e sentindo a sensação mais completa e impossível de descrever. Mas, desta vez, eu espero que no meu “Conto de fadas forrozeiras” eu me apaixone por um príncipe que dance. Ou eu possa já estar apaixonada e já ter até dançado o mais perfeito xote com esse príncipe. Mas essa parte a gente deixa para contar um outro dia. Afinal de contas, o que seria da vida sem as paixões?