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A Evolução do Forró Dança em São Paulo

Um Mergulho no Movimento do Forró Universitário

O professor Evandro Paz analisa a evolução da dança de forró na cidade de São Paulo. Nos anos 90, a capital paulistana testemunhou o surgimento de um novo movimento cultural que transformaria o cenário do forró para sempre: o Forró Universitário. Esse fenômeno, que se destacou entre 1994 e 2005, trouxe uma onda de entusiasmo e um estilo próprio de dança, criando uma nova identidade para o forró na região sudeste do Brasil.

Fachada da antiga casa de forró KVA localizada no bairro de Pinheiros

O Começo do Forró Universitário

O Forró Universitário nasceu em um momento em que a cultura nordestina começava a se mesclar de forma única com as influências urbanas de São Paulo. Nas casas de forró da cidade, como o Remelexo e a Casa do Forró, jovens de 15 a 18 anos começaram a frequentar os bailes, trazendo consigo experiências de danças como lambada, samba rock e salsa. Sem a referência clara das tradições nordestinas, esses jovens se inspiraram em suas vivências corporais, criando um estilo próprio de dança de forró. Eles dançavam de forma intuitiva, sem saber diferenciar, por exemplo, um baião de um xote ou um arrasta-pé. O processo era orgânico, descomplicado, e trazia uma liberdade de expressão que logo se tornaria característica do Forró Universitário.

Itaúnas. A Meca do Forró

A Influência de Itaúnas: A Nova Meca do Forró Universitário

Um ponto crucial para o crescimento do Forró Universitário foi o intercâmbio entre dançarinos de diferentes estados brasileiros, promovido por festivais e encontros. Em especial, o vilarejo de Itaúnas, no Espírito Santo, se destacou como um centro de convergência desse movimento. Geograficamente situado no encontro de diversos estados, Itaúnas proporcionava um cenário perfeito para que dançarinos de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro se reunissem para compartilhar suas diferentes formas de dançar.

As danças em Itaúnas eram caracterizadas por variações corporais únicas, como o jogo de pernas e movimentos fluídos do corpo. Esse estilo começou a influenciar a dança do forró em São Paulo, que se desenvolvia de forma paralela. Itaúnas foi rapidamente reconhecida como uma “nova Meca do Forró” para os dançarinos do Sudeste, oferecendo um ambiente propício para a experimentação e fusão de estilos.

Pé Descalço e Roots, os subestilos do Forró Universitário

Os Subestilos do Forró Universitário: Roots e Pé Descalço

Ao longo do tempo, o Forró Universitário começou a se diversificar, dando origem a subestilos distintos. Um dos mais conhecidos é o “Roots”, um estilo que surgiu de forma orgânica durante os festivais e encontros de forró. A origem do termo “Roots” está relacionada com o resgate do forró tradicional, mas com uma nova roupagem, influenciada pela modernidade e pela urbanidade de São Paulo. Esse estilo enfatiza o jogo de pernas, com movimentos mais próximos ao chão, mantendo uma conexão com o forró pé de serra.

Outro subestilo importante é o “Pé Descalço”, que surgiu em Minas Gerais, especialmente em Belo Horizonte. O Pé Descalço é marcado por movimentos mais expansivos, uso expressivo dos braços, e um estilo de dança mais alegre e jovem, que atrai especialmente adolescentes e jovens adultos. Enquanto o “Roots” mantém uma postura mais enraizada e introspectiva, o “Pé Descalço” é vibrante e comunicativo, conquistando muitos adeptos nas rodas de forró.

O Forró Urbano de Evandro Paz e Iris de Franco

O Surgimento do Forró Urbano: Um Novo Capítulo

Nos últimos anos, uma nova tendência emergiu, chamada de “Forró Urbano”. Este termo se refere ao desenvolvimento da dança do forró em grandes centros urbanos, como São Paulo, que reinterpretaram e adaptaram o forró às dinâmicas das cidades. Evandro Paz, um dos professores de dança mais influentes de São Paulo, destaca que o “Forró Urbano” engloba todos os estilos que surgiram após o boom do Forró Universitário, representando um amadurecimento da dança, com novas expressões e interpretações.

O Forró Urbano, em certo sentido, é um reflexo da evolução natural do forró no Sudeste, incorporando elementos de várias culturas e estilos, mas mantendo a essência da dança nordestina. Ele sintetiza a diversidade de estilos e subestilos que surgiram ao longo dos anos, adaptando-os a novos contextos e ambientes urbanos.

O Rootstock, criado pelo DJ Ivan Dias veio preencher uma lacuna para os amantes do Forró

Os Festivais e o Papel dos Encontros na Consolidação do Movimento

Os festivais de forró desempenharam um papel vital na disseminação e diversificação da dança. Além de Itaúnas, eventos como o Rootstock, fundado pelo DJ Ivan Dias, ajudaram a criar um espaço de intercâmbio cultural e dançante entre pessoas de várias regiões. Esses encontros possibilitaram o florescimento de novos subestilos e a troca de experiências entre dançarinos de diferentes partes do Brasil e do mundo. O Rootstock, por exemplo, foi inspirado pelo icônico festival de música Woodstock, simbolizando a união e a celebração do forró em sua forma mais pura e comunitária.

A Expansão Internacional do Forró Dança

A partir de 2007, o movimento do Forró Universitário começou a ultrapassar as fronteiras brasileiras, alcançando países como Alemanha, França e Inglaterra. Escolas de dança surgiram em várias partes do mundo, com professores e dançarinos brasileiros disseminando o forró e adaptando-o às culturas locais. Evandro Paz observa que essa expansão internacional é fruto da flexibilidade e adaptabilidade do forró, que permite a sua incorporação em diferentes contextos culturais, sem perder sua essência.

A Importância de Nominar os Estilos e a Diversidade do Forró Dança

Evandro Paz também reflete sobre a importância de se nomear os estilos de forró, como “Forró Urbano”, “Roots”, “Pé Descalço” e outros, que se tornaram marcas registradas da evolução do forró dança. Para ele, embora os nomes ajudem a identificar e diferenciar os estilos, também podem criar divisões desnecessárias. O nome “Forró Urbano”, por exemplo, reflete uma tendência contemporânea de urbanizar e diversificar a dança do forró, reunindo sob um mesmo termo as várias influências e expressões que a dança tem adquirido nas últimas décadas.

Celebração e Resistência

O forró em São Paulo e no Sudeste é um fenômeno em constante evolução, que mescla tradição e inovação de maneira única. Desde o surgimento do Forró Universitário, com sua explosão cultural nos anos 90 e 2000, até o desenvolvimento de subestilos e sua expansão internacional, o forró dança tem se mostrado adaptável e resiliente, refletindo as múltiplas influências e dinâmicas sociais que o cercam. Com o passar do tempo, o forró continua a ser uma dança de celebração e resistência, sempre pronta a incorporar novas influências e a reinventar-se de acordo com o espírito da época.

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