Forró Raiz

Forró For All – O Musical. Crítica

Forró Fonte de Felicidade esteve na pré estreia do musical Forró For All que aconteceu no teatro B32. Um espetáculo que aflorou os sentimentos da plateia. Confira

Com a casa lotada e grande expectativa do elenco, assim foi a pré-estreia do musical Forró For All – Forró Sudestino no Coração do Largo da Batata, da dramaturga e diretora Deborah Goldemberg, no Teatro B32, localizado na Faria Lima, em São Paulo. Um palco requintado para um ritmo que sofreu com marginalização e preconceito, mas que conquistou o coração dos jovens na virada dos anos 2000.

O musical retratou o surgimento do Forró Universitário em São Paulo, que teve diversos fatores como epicentro: um baile promovido por um professor da veterinária da USP no Vale do Anhangabaú, o estouro da Banda Falamansa, a descoberta de um jeito de dançar Forró em Itaúnas (Espírito Santo) pelos jovens da classe média de São Paulo e do Rio, a febre do forró no KVA e Projeto Equilíbrio, uma evolução da lambada e muito mais.

O Forró no Largo da Batata

Forró For All apresentou um panorama desse início do Forró Sudestino em um local emblemático da cidade de São Paulo: o Largo da Batata, em Pinheiros. Essa área é conhecida como o lado menos favorecido da Faria Lima, onde trabalhadores se encontravam no terminal rodoviário de Pinheiros e partiam de ônibus para vários bairros da periferia. Mesmo nos dias atuais, a região não acompanha o luxo e sofisticação do lado nobre da avenida, que abriga prédios de importantes empresas do Vale do Silício, como Google, Facebook e Linkedin, além da agência de publicidade África e do luxuoso Shopping Iguatemi.

A trama se desenvolve em torno de duas famílias, uma nordestina e outra paulistana. José Alves, interpretado pelo ator Aury Porto, é zelador do prédio e é assediado por um corretor imobiliário. Com informações sobre a futura estação de metrô, eles fazem um acordo: José tem a missão de convencer os proprietários das casas a vendê-las por um preço inferior, possibilitando que o corretor lucre com incorporações de grandes empreendimentos imobiliários que surgiram na região. O filho de José, Pipo, interpretado pelo ator Diego Lima, ganha uma bolsa de estudos como parte do acordo, forma-se médico e casa com a filha do corretor.

Logo no início, surge a figura do sanfoneiro Almindo, interpretado pelo ator e cantor Flávio Pacato (do trio Tukum, MPB), que cativa a plateia. Sua missão é mostrar o poder do Forró em acalmar e trazer felicidade às pessoas.

O início em Itaúnas

Além de retratar o início e a expansão da dança de Forró, que teve inspiração no jeito de dançar Forró da pequena vila de Itaúnas o estilo foi copiado e adaptado e se espalhou pelo sudeste do país, conquistando os corações dos jovens e atraindo estudantes das imediações, principalmente da USP e da PUC, o musical também aborda os desafios dos relacionamentos na vida moderna e a exaustiva rotina de trabalho imposta pelo estilo de vida atual. Pipo, um médico que lida com plantões e viagens constantes, acaba negligenciando sua vida conjugal e a atenção a esposa e ao filho recém-nascido.

Gentrificação e a resistência do Forró

Um dos conflitos entre pai e filho é a gentrificação, que consiste em afastar as famílias dos bairros centrais para a periferia, por meio da compra de propriedades, impondo longas viagens diárias de ida e volta ao trabalho. José Alves se torna candidato a vereador, mas seu filho ainda nutre discordâncias de ideais. A trama é habilmente construída e também mostra como o Forró perde um pouco de sua aura de modismo ao longo do tempo, transformando-se em uma forma de resistência cultural. Atualmente, as duas grandes casas de forró, Canto da Ema e Remelexo, localizadas na região de Pinheiros, correm o risco de serem substituídas pela construção de torres com apartamentos de luxo e escritórios.

Coreografia e consultoria de Evandro Paz e Iris De Franco

O musical contou com um elenco jovem e uma banda extremamente competente, que executou músicas do Forró Raiz e das bandas que sucederam com o surgimento do Forró Universitário. O público se encantou com os sucessos da Banda Falamansa, Trio Virgulino, entre outros. A direção musical é de Lu Sarmento e de Mauricio Braz, responsáveis pela voz e clarinete, respectivamente. A coreografia e preparação corporal ficaram a cargo de Evandro Paz e Iris De Franco. Durante a produção do espetáculo, a diretora Goldemberg sentiu a necessidade de dançarinos e foi pessoalmente ao Remelexo para recrutar novos talentos. Ela selecionou duas pessoas que, segundo ela, trouxeram o gingado necessário para as coreografias do musical.

Opinião da plateia

A plateia vibrou, se emocionou e aplaudiu de pé ao final do espetáculo. A professora Rafaele Marialvez relata que experimentou uma mistura de risos e lágrimas com cenas que relembraram sua juventude e menciona que sua alma nordestina aflorou durante a apresentação. Por sua vez, o consultor de meio ambiente Eugenio Singer enfatiza a importância do trabalho da diretora em resgatar valores da cultura brasileira por meio de um grande espetáculo. O engenheiro e ex-produtor musical do Remelexo, Daniel Silver, menciona que reviu os tempos em que trabalhava como produtor do local e que, apesar de a casa estar sempre lotada, o ritmo do Forró ainda enfrentava e enfrenta resistência por parte da elite paulistana. Silver estava acompanhado de sua esposa e relembrou que foi no Forró que a conheceu. Ambos se emocionaram e reviveram os tempos de namoro nos salões de dança.

A professora e promotora cultural Iris De Franco aponta a importância do Forró estar no palco, principalmente agora que o Forró foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial, pelo Iphan.

Goldemberg está negociando novas apresentações e tem planos de levar o musical para outros estados e até mesmo para fora do país.

Fotos André Jannuzzi e Laércio Germano

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